Estudo das perceções da população residente na cidade de Lisboa sobre a importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento da criança (0-6)
Equipa técnica de Investigação: Fausto Amaro (coordenador); Mafalda Duarte; Paula do Espírito Santo
Resumo
O desenvolvimento infantil é percecionado pela população inquirida como sendo influenciado negativamente pelas situações de pobreza (89%); doenças das crianças (85,3%); doenças dos pais, crónicas ou prolongadas (78,7%); problemas de saúde mental dos pais 86%); problemas de stress dos pais (81,7%); situações de conflito e violência na família (87,7%); e exposição a ecrãs (computador ou telemóvel) durante muito tempo (71%).
No que respeita à pobreza, é crença das pessoas entrevistadas que ela ocasiona: dificuldades de aprendizagem (47%); comportamentos desajustados (42%); maior probabilidade de doença (23,7%); dificuldades no desenvolvimento afetivo (26,7%); problemas de relacionamento com outras crianças (28,3%); problemas de aceitação junto da comunidade escolar (32,3%); e Isolamento (18,3%).
O relacionamento com os pais ou com outras pessoas que cuidam das crianças é visto como podendo ser positivo ou negativo conforme o tipo de relacionamento que existe.
Considerado positivo para o desenvolvimento infantil está o brincar com outras crianças (90%) e tempo dedicado aos filhos pelos pais (90,3%).
No que respeita às crianças filhas de imigrantes, as pessoas inquiridas foram de opinião que estas tinham mais problemas de desenvolvimento quando comparadas com as crianças portugueses.
Existe a perceção de que as doenças das crianças têm impacto na saúde na vida adulta (68,7%) e que poderão estar na origem de problemas mentais ou psicológicos (11,7%)
Apenas 35,7% dos inquiridos mostrou ter um conhecimento correto sobre idade em que se realiza o maior desenvolvimento do cérebro das crianças.
O estudo procurou recolher também opiniões sobre a creche e o jardim de infância, tendo 18% dos entrevistados respondido que considerava inadequada a frequência da creche pelas crianças dos 0 aos 3 anos, as quais deveriam ficar com as respetivas famílias. O mesmo tipo de resposta foi dado a respeito do jardim de infância (4,7%).
Quanto às duas principais funções da creche e do jardim de infância, foi indicado: tomar conta das crianças (79,7% na creche e 74,3% no caso do jardim de infância); e estimular as crianças (77,3 na creche contra 74,3% no jardim de infância).
Existe a perceção que frequentar uma boa creche ou jardim de infância pode influenciar positivamente, mais tarde, os resultados na escola (87%).
Mais tempo dos pais com as crianças foi considerado positivo, tendo os entrevistados preconizado três medidas, para que os pais tenham mais tempo para dedicar aos filhos: melhores condições de vida (60,7%); horários de trabalho mais flexíveis (55%); e redução de horários de trabalho (52,3%).
Uma maior atenção ao desenvolvimento infantil foi considerada necessária, o que resultaria nos seguintes benefícios para a sociedade: cidadãos mais responsáveis (35,7%) e mais saudáveis (23%); com maior sucesso e integração escolar (22%).
Um terço da população inquirida (33%) não soube responder sobre qual seria a melhor solução a dar às crianças em perigo que têm que ser retiradas da família; 56% foi de opinião que a melhor solução seria uma família de acolhimento.
Quer os serviços públicos de saúde para crianças, em Portugal, quer os serviços privados, são percecionados de forma positiva e considerados bons ou excelentes (26% no caso dos serviços públicos, e 37% no caso dos serviços privados).
Cerca de um terço dos inquiridos (30,3%) é de opinião que os serviços de saúde privados são inacessíveis para algumas famílias.
A obtenção de uma consulta nos serviços de saúde especializados, foi considerado muito demorada, por cerca de 55% dos inquiridos.
Uma maior atenção deveria ser dada ao desenvolvimento infantil, na opinião de 91% dos entrevistados.
Para melhorar a situação das crianças em Portugal, as três principais medidas preconizadas foram: facilitar aos pais melhores horários (47%); maior apoio económico às famílias (46%); melhores serviços de saúde (25%).
Avaliando a sua própria infância, os entrevistados consideraram que o mais importante para o seu desenvolvimento como pessoa foi: a família e o apoio familiar (27,3%); a educação e os valores recebidos (22%); e o acompanhamento, o amor e relação com os pais (15,7%).
As três principais razões indicadas para uma infância feliz foram: bom ambiente familiar e social (88,3%); brincar (31,3%); tempo com a família (30,7%).
Os resultados obtidos no estudo permitiram elaborar recomendações para ação, apresentadas no final do relatório.