A Força de uma Cascata de Cuidados!

O conhecimento que hoje temos sobre a relevância dos primeiros 1000 dias de vida (Cusick & Georgieff, 2016), como fundação da Pessoa na sua plenitude, oferece-nos uma oportunidade extraordinária para potenciar novas teorias da mudança e estratégias inovadoras que apoiem o bem-estar e desenvolvimento de crianças, famílias, profissionais e comunidades.

Neste contexto, existe uma base científica muito robusta acerca da importância das relações na expressão do bem-estar inerente ao cuidar e ser cuidado – o relatório “Das Melhores Práticas aos  Impactos Transformadores” do Center on the Developing Child da Universidade de Harvard (2016), afirma a força que relacionamentos atenciosos, adultos carinhosos e experiências positivas no início da vida têm na construção de uma forte arquitetura cerebral para as crianças.

Cabe-nos então, no cerne do nosso compromisso com cada criança, cada família e com as suas condições de vida, afirmar e materializar a relação como a essência do humano (Brito, 2019); cabe-nos afirmar a necessidade de uma cascata de cuidados (Gomes-Pedro, 2017), multidimensional, sistémica. E é aqui que uma intervenção em rede, colaborativa pode fazer toda a diferença!

No tempo de Pandemia que vivemos, o mais recente Relatório da UNICEF Portugal (2020) alerta-nos que esta situação colocou em evidência “desigualdades pré-existentes, como a desigualdade digital, de pobreza ou género, entre outras.” (UNICEF, 2020, p.3). Falar da pobreza na infância é, desde logo, sentir a nossa fragilidade e vulnerabilidade humana no âmago de quem somos; é sentir a ferida que abre na nossa dignidade, no respeito mais profundo pela vida, nas suas mil possibilidades (Brito, 2020).

É com esta lente sistémica que aproximamos o nosso olhar das crianças mais novas – que “são altamente dependentes de um ambiente acolhedor e amoroso e de recursos físicos e económicos” (Sarmento & Veiga, 2011, p.22) – para que o bem-estar, transversal na Convenção dos Direitos da Criança, se traduza em realidade.

Como tão bem afirma a Rede Europeia Anti Pobreza (2020), temos de lutar para “garantir uma política social solidária com uma ação multidisciplinar e integrada” defendendo ainda que “este combate não pode ser apenas travado pelos órgãos do Estado. É um combate nosso, de todo o Portugal” – aqui estamos, e prosseguimos juntos, para o edificar – com a convicção, força e compromisso de uma visão e missão partilhada!

Ana Teresa Brito

ISPA-Instituto Universitário

Membro do Conselho de Administração da Fundação Brazelton Gomes-Pedro para as Ciências do Bebé e da Família