Os primeiros anos de vida são fundamentais para a construção de trajetórias de desenvolvimento

Embora os psicólogos do desenvolvimento contemporâneos concordem que retomar o debate “nature-nurture” (i.e., biologia versus ambiente social) é infrutífero, estas duas diferentes concepções, dos determinantes do comportamento humano persistiram na psicologia académica até bem recentemente.

Curiosamente, os pioneiros da psicologia do desenvolvimento adotaram uma visão bastante diferente. Em vez de tentarem decifrar a contribuição relativa dos factores genéticos e ambientais no desenvolvimento humano, argumentaram que ambos atuam em conjunto.

Por exemplo, Preyer (1888), um dos primeiros investigadores do desenvolvimento da criança, propôs que o comportamento deve ser entendido enquanto produto da interação entre a biologia e o ambiente social. As suas pesquisas sobre o desenvolvimento dos sistemas sensoriais levaram-no a concluir que, ao longo do processo de ontogenia humana, existe sempre um efeito bidirecional entre as funções adaptativas observáveis e as estruturas orgânicas subjacentes.

Da mesma forma, James Mark Baldwin (1902) propôs que, ao nível comportamental, os resultados da interação entre processos biológicos e psicológicos devem ser considerados mais do que a soma das partes. A adaptação comportamental é um produto de forças sociais e biológicas trabalhando juntas para promover níveis crescentes de adaptação individual.

Numa reformulação moderna destas perspectivas psicobiológicas, Gottlieb (1991) propôs que o crescimento individual é conjuntamente determinado pelo genótipo da criança, pela sua experiência precoce e, ainda, por constrangimentos imediatos do contexto desenvolvimental. Na sua perspetiva, o desenvolvimento é o produto de uma co-ação entre a biologia e as influências sociais. As mudanças desenvolvimentais podem ser reguladas em diferentes níveis de complexidade orgânica, bem como dentro de cada um dos diferentes níveis. Se os genes modelam o comportamento, as condições ambientais também regulam a expressão genética. A noção de epigénese probabilística postula que o organismo e o contexto estão integrados enquanto componentes de um sistema aberto, onde o estado futuro do sistema é determinado por transacções multinível. Uma vez que a variação no timing dos processos biológicos, psicológicos e sociais não pode ser pré-estabelecido, a mudança desenvolvimental é necessariamente probabilística.

Uma visão probabilística do desenvolvimento sublinha a diversidade e a plasticidade de fenótipos particulares e realça que as trajetórias de desenvolvimento individuais são sempre incertas, embora permaneçam dentro dos limites de intervalos de reação específicos de cada espécie.

Vários autores contemporâneos argumentaram que, para que seja assegurado um crescimento ótimo, o processo de desenvolvimento humano requer uma base genética bem como um ambiente social suficientemente estimulante. Tal como o património genético, os ambientes sociais possuem uma organização particular e uma coerência interna próprias que têm implicações funcionais no crescimento e no desenvolvimento. O ambiente social não é apenas um suporte, mas é também construtivo e informativo. Mas as mudanças que ocorrem durante o desenvolvimento são, também, governadas por processos seletivos que canalizam as atividades comportamentais e representacionais, e restringem a emergência de estratégias adaptativas alternativas. Apesar de ser esperado um certo grau de plasticidade, as diferenças precoces na experiência social podem criar e manter diferenças qualitativas nas trajetórias de desenvolvimento numa mesma população de crianças. A variação ao nível do desenvolvimento, especialmente com base nas primeiras relações sociais, é entendida à luz do grau de vulnerabilidade que os indivíduos apresentam, mas sobretudo da sua plasticidade desenvolvimental. As estratégias plásticas tornam o individuo mais suscetível às influências que advêm das especificidades ambientais, sejam estas favoráveis ou adversas, ou seja, permitem ao individuo beneficiar de ambientes positivos, mas ao mesmo tempo colocam-no em risco para ambientes mais negativos.

Vários estudos sobre a interação gene-X-ambiente têm confirmado esta proposta teórica. Crianças com a mesma informação genética mas com famílias altamente sensíveis apresentam menos problemas de comportamento do que crianças com a mesma informação mas com famílias menos sensíveis.

Estes estudos têm demonstrado como os primeiros anos de vida são fundamentais para a construção de trajectórias de desenvolvimento saudáveis ou não e a importância da intervenção junto das famílias para assegurar a cada criança as condições mais favoráveis para o seu desenvolvimento. A promoção de ambientes familiares suficientemente bons, que proporcionem às crianças a estimulação necessária para o seu bom desenvolvimento vai sem qualquer dúvida criar uma geração com melhores capacidades sociais, emocionais e cognitivas, com menos problemas ao nível da saúde mental. Investir nos primeiros anos de vida, vai certamente contribuir para um futuro melhor para todos.

A campanha Primeiros Anos a Nossa Prioridade tem como objetivo juntar os esforços das mais variadas entidades interessadas na infância, aos quais o ISPA-Instituto Universitário se associa com todo o gosto.

Manuela Veríssimo, Directora do Mestrado em Psicologia e Psicopatologia do Desenvolvimento, Vice-Reitora ISPA-Instituto Universitário.

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